2019 começou conforme o planejamento, realizado nas últimas décadas, de nossas “autoridades”.
As tragédias de Brumadinho, Rio de Janeiro e Ninho do Urubu nada mais são do que resultado das ações (omissões?!) dos gestores, privados e públicos, que ocupam cargos estratégicos e decisivos, guiando a Nau brasileira rumo a sei lá aonde.
Todo ano ocorre pelo menos uma dessas tragédias de longo prazo. Numa retrospectiva rápida em minha memória posso citar Mariana, Boate KISS, Museu Nacional do RJ, Altamira, Teresópolis, Nova Friburgo, Congonhas, Naufrágio na Bahia……Isso sem contar as que, felizmente, não deixaram vítimas fatais como o desabamento do viaduto no Eixão Sul aqui em Brasília.
Milhares de vidas ceifadas repentinamente por conta do descaso, irresponsabilidade, ganância e certeza de impunidade de autoridades públicas e privadas. Esses senhores e senhoras contam com a sorte e com a Justiça, sabedores de que a tragédia vai ocorrer, cedo ou tarde, pois faz parte do planejado………mas torcem para que não seja na sua “gestão”. Quando ocorre culpam os antepassados, Deus, o Diabo, o Clima, esquecendo dos laudos técnicos, estudos e relatórios, feitos por gente séria, que anunciavam a morte de inocentes. Passado o constrangimento das entrevistas, lamentando as mortes e apresentando soluções paliativas de curto prazo, contam com nossa “eficiente” e “rápida” Justiça, advogados bem pagos, recursos intermináveis, esquecimento da grande mídia e a mais famosa amiga dos poderosos………a IMPUNIDADE. Falta gente séria, punição e transparência.
Quem planejou Brumadinho comemorou as enchentes e deslizamentos no Rio que soltou fogos com o incêndio no ninho que, por sua vez, reza pelo atingimento da próxima meta e a chegada do próximo grande título. Taça Guanabara?
Essas “fatalidades” anunciadas são frutos do “modus operandi” do sistema político instituído no país. Nele, os verdadeiros responsáveis precisam ficar ricos para se defender de suas decisões e dos resultados do próprio sistema por eles criado.
Só que no setor público o salário dos cargos não deixa ninguém rico…………….mas o poder do cargo pode deixar. Mas para ter o cargo e se manter lá, nesse sistema, é preciso voto, muito dinheiro, comparsas para os cargos de segundo e terceiro escalão, amigos donos de empresas que contratam com o poder público e lógico, uma amiga famosa. Assim, ao invés de fazer obras óbvias de infraestrutura como contenção de encostas, saneamento básico, escoamento de águas pluviais, escolhem fazer estádios de futebol e equipamentos esportivos para as Olímpiadas, mesmo sabendo que não serão subutilizados ou abandonados, pois isso dá mídia e tem prazo para conclusão facilitando contratações emergenciais e superfaturadas. Fazer obras
de manutenção apontadas pelos técnicos e órgão de fiscalização? Nem pensar, são mais baratas e não mostram algo “novo” para a população…………..deixa desabar, basta torcer para que seja no colo de outro.
Além disso, tudo o que o setor privado precisar de autorização do poder público para funcionar vamos cobrar propina para liberar, afinal é um setor corruptor por natureza e explorador da classe trabalhadora aumentando a pobreza e desigualdade do nosso país do futuro. Laudo do Bombeiro para funcionamento de boate? Cobra-se e não confere. Licença Ambiental para Barragens ou construção de Usinas? Cobra-se……e caro. Alvará de funcionamento de lanchonete, padaria, bar? Cobra-se……os comparsas do baixo clero também
precisam ser abastecidos. Alvará de construção de imóvel residencial? Cobra-se, lógico……..a classe média tem privilégios demais e precisa dar a sua contribuição na distribuição de renda.
Habeas Corpus, sentenças, deferimento de recursos? Cobra-se…………lentidão e interpretações impossíveis das leis também tem preço e alto.
Já no setor privado………………ah aqui é o paraíso, motor propulsor do capitalismo malvadão e com alta capacidade de cooptar o funcionalismo público que, por meio de concursos, só seleciona gente “ética” e “honesta”. Todos são milionários, os cargos no alto escalão pagam altos salários, bônus de performance, participação nos lucros e outras benesses que invejam o “servidores e empregados públicos”, mais até do que o salário dos Ministros do Supremo. Lugar onde executivos acompanhados da amiga famosa frequentam festas regadas a whisky single malte e caviar (o ovo dos ricos).
Nesse setor, ganancioso “por natureza”, em busca da lucratividade máxima a “qualquer custo”, decide-se construir barragem no molde mais barato ao invés do mais seguro. Custo de indenização de vítimas de tragédias de longo prazo? Já está no cálculo! A lei prevê punição para pessoa física? Simples, aciona-se os “políticos” contratados para modificá-la, afinal, o rompimento de uma barragem de lama construída pelo infalível homo sapiens só pode ser considerada um “desastre natural”. Licença ambiental e laudos de órgãos públicos? De buenas, sabemos como os gestores chegaram lá e as equipes de baixo não vão conseguir nos fiscalizar.
Aprovação de balanço e relatórios anuais fraudados? Tranquilo, empresas de auditoria também precisam faturar para sobreviver no Brasil. Investir num alojamento seguro para jovens das categorias de base? Nada, vamos gastar o dinheiro com salários milionários de jogadores consagrados e que, em alguns casos, nem rendem mais o que se paga por eles, pois os “torcedores” preferem. Ganhou licitação para obra pública? Opa, ganhou na loteria, pagam mais que o setor privado, pois o dinheiro não é deles. Além disso, usa-se material de segunda, constrói-se fora do prazo, do plano, do projeto, pois precisa cair para ter que fazer de novo.
É a roda viva, a roda gira……………se der merda não há com o que se preocupar, basta uma noitada com a amiga famosa. A mudança precisa começar pelo setor público, mas enquanto elegermos populistas, corruptos e despreparados, acreditando em discursos e promessas falaciosas continuaremos reféns dessas tragédias. Precisamos escolher nossos representantes pelo que eles fazem e não pelo que eles falam.
Por Fernando Caixeta formado em Administração e com pós-graduação em Gestão Pública e filiado do NOVO.